sábado, 23 de setembro de 2023


  Um poema inédito de Caio Fernando Abreu foi achado por sua irmã, Márcia de Abreu Jacinto. O poema de 1989 diz:

"No meio do silêncio e do verde, a presença de Deus fica mais clara. Essa luz ilumina os porões da mente, desfaz o mofo, espanta os fantasmas. Com cuidado, chamo a isso de ‘felicidade’. 

Ela pousa, muito leve, no telhado desta casa.

domingo, 28 de novembro de 2021

Noturno


 

O aço dos meus olhos, o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silêncio mas deixaram suas marcas
Se hoje sou deserto é que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força e a ventania vem mais forte

Hoje só acredito no pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia em cada ponto de partida
Há muito me deixou, há muito me deixou

Ai, coração alado
Desfolharei meus olhos neste escuro véu
(Não acredito mais no fogo ingênuo da paixão)
São tantas ilusões perdidas na lembrança
Nessa estrada (só quem pode me seguir sou eu)
Sou eu, sou eu , sou eu. 

Hoje só acredito no pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia em cada ponto de partida
Há muito me deixou 

(Canção de Fagner - Compositores: Caio Silvio Braz Peixoto Da Si / Graccho Silvio Braz Peixoto )




Silêncio, hoje eu preciso tanto ouvir o céu 
Já não é mais urgente assim falar
Meu coração precisa repousar

Eu venho lá dos sertões onde a saudade se perdeu
Daquela estrada empoeirada que doeu
Como uma flor que resistiu assim sou eu

Silêncio, eu quero ouvir o que me diz a imensidão
Saber se minha alma tem razão
Quando acredita que essas coisas vão durar

Silêncio, pra eu me lembrar de tanta coisa que eu sonhei
Encontrar todas as folhas que eu juntei
Por essa estrada que me trás até a mim

(Maria Bethânia)

domingo, 1 de setembro de 2019

Acreditar no amor

Espero que um dia você volte a acreditar no amor, nos fins de tarde das quintas, nas idas ao cinema aos sábados. No doce do beijo da despedida, nas cicatrizes que deixam de ser feridas. Nas mãos dadas e no lanche dividido na praça de alimentação do shopping. Espero que um dia você volte a acreditar.

Nas trocas de figurinhas no Whatsapp, nas músicas enviadas, nos sonhos compartilhados, nos incontáveis beijos roubados, no café quentinho na cama, na chama que inflama, no suor que molha as mãos... Naquilo que, hoje, você já não acredita tanto. Espero que um dia você volte a acreditar.

No peito aquecido, no calor do tato, nos lençóis no chão do quarto, em mais alguns beijos roubados. No tocar da campainha, no coração acelerado, no frio na barriga, nos abraços antes da hora da partida... Espero que um dia você volte a acreditar. E que o amor reapareça quando você menos esperar.

[DAVI MELO]

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O que você é?

A verdade é que o que dizemos não tem tanta importância. Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo o respeito - é apenas o que você diz.
[Martha Medeiros]

quinta-feira, 21 de junho de 2018


É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida.

Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d’água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.

Alturas, tiras, subo-as, recorto-as
E pairamos as duas, eu e a Vida
No carmim da borrasca. Embriagadas
Mergulhamos nítidas num borraçal que coaxa.
Que estilosa galhofa. Que desempenados
Serafins. Nós duas nos vapores
Lobotômicas líricas, e a gaivagem
se transforma em galarim, e é translúcida
A lama e é extremoso o Nada.
Descasco o dementado cotidiano
E seu rito pastoso de parábolas.
Pacientes, canonisas, muito bem-educadas
Aguardamos o tépido poente, o copo, a casa.

[Hilda Hilst]

terça-feira, 22 de maio de 2018


Que honremos o fato de termos nascido e que saibamos desde cedo que não basta rezar um Pai Nosso para quitar as falhas que comentemos diariamente.
Essa é uma forma preguiçosa de ser bom.
O sagrado está na nossa essência e se manifesta em nossos atos de boa fé e generosidade, frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião.

[autor desconhecido]

segunda-feira, 21 de maio de 2018


“Fiquei sozinho um domingo inteiro. Não telefonei para ninguém e ninguém me telefonou. Estava totalmente só. Fiquei sentado num sofá com o pensamento livre. Mas no decorrer desse dia até a hora de dormir tive umas três vezes um súbito reconhecimento de mim mesmo e do mundo que me assombrou e me fez mergulhar em profundezas obscuras de onde saí para uma luz de ouro. Era o encontro do eu com o eu. A solidão é um luxo.”

[Clarice Lispector]

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Arte de Amar

Se  queres sentira felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus  - ou  fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.
Deixa teu corpo entender-se com outro corpo.
porque os corpos se entendem, mas as almas não.

[Manuel Bandeira]
Img: SamHeughan e Caitriona Balfe  em Outlander 1T, ep 07.

*Quero  dizer que discordo do Manuel Bandeira, pois acredito que existam encontro de almas.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Recria-se

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

[Cora Coralina in “Melhores Poemas”]

Existe duas dores de amor. A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
Você deve achar que eu bebi. Se a luz está sendo vista, adeus dor, não seria assim? Mais ou menos. Há, como falei, duas dores. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por ninguém. Dói também.
Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um suvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação com a qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor-de-cotovelo propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.

[Martha Medeiros in A despedida do Amor, 2001]

Éh...a gente tem química, tem física, tem história, riso e amor por tudo que é bom. Tem toda uma bagunça que dá gosto de sentir. De sentir que não acaba. Que faz a gente se encontrar escondido, se beijar de lado e morrer de rir.
Desejar ter te conhecido a vida inteira foi sempre o que fiz, mesmo quando a saudade era alta, tua lembrança era de graça. 

[Vanessa leonardi]

sábado, 11 de março de 2017

Precisão

"A gente precisa é de um instante que cuide bem da gente, de um amor que mereça o nosso fôlego, de um olhar desbocado que não se desvie por pouco e diga pra que veio."

[Priscila Rôde]

sexta-feira, 10 de março de 2017

Reflexo

"Se sou amado, quanto mais amado mais correspondo ao amor. 
Se sou esquecido, devo esquecer também, 
pois amor é feito espelho: tem que ter reflexo."

[Pablo Neruda]

quinta-feira, 9 de março de 2017

A vida não pára

O incansável mecanismo do cotidiano também é inimigo da dor.
Aí pensamos que ela está mais suportável. Mas um movimento inesperado, um som, uma palavra, um cheiro, um objeto desintegra outra vez o que parecia se reestruturar.
É processo complexo que varia em cada pessoa, em cada circunstância. Seja como for, de tropeço em tropeço, de agonia em agonia, retomamos o prumo. Pois mesmo quando de um lado a morte nos abraça, do outro a vida nos chama.

[Lya Luft in O Tempo é um Rio que Corre]

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